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Mostrando postagens de 2012

Véspera

Você sorri. Diz que o ano que vem vai ser bonito. Diz que vai ser bonito como o meu sorriso, e eu nem estou sorrindo. Diz que belas palavras selam compromissos e que você pode lê-las em meus lábios, mas eu estou calado. Diz que meus olhos te encantam, e eu os mantenho cerrados. Estamos nus, deitados numa cama, deliciando o escuro, e eu estou refletindo: ou se intimida ou se intimida. O escuro é assim: diante dele, ou estreitamos laços num ímpeto decisivo que nos põe à parte de quem somos, e aí há intimidade; ou os afrouxamos e nos esgueiramos por paredes, encurralados pela fatalidade que criamos no outro, e aí a timidez. Eu, que levo metas a sério, já não me encosto em canto algum. Mas ai de mim que prometi ser mais paciente, quando disfarçava minha intolerância de introspecção. E eis que me disponho a compartilhar-me, ainda que inseguro destas decisões abruptas que me são  cobradas pelo reflexo de minh’alma. E nem preciso de luz para encantar-me com sua silhu

Iniciação Lógica ao Nonsense

  ou Convergência de Paradoxos Dizem que só se pode ser ofendido se nos permitirmos sê-lo. Pois a discórdia que nos é oferecida, descascada qualquer ofensa e o possível intuito de insulto, é um presente dos deuses. Quando toda afirmativa é plural¹ e o racional nos impõe a lógica, a discórdia que nos faz entrar em conflito e superar as explicações automáticas é uma libertação e tem finalidade mediúnica, ao passo que nos faz enxergar outras possibilidades. Se todos os caminhos levam ao mesmo lugar e apenas “o caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria”², que nos embebamos de causas e com efeito nos transcenderemos. Pois proponho a discórdia, em todas as suas concepções! E uma longa noite ao lado de Eris! Brindemos? ___ ¹ “Todas afirmações são verdadeiras em algum sentido, falsas em outro sentido, sem sentido em alguns sentidos, verdadeiro e falso em outros sentidos, falsas e absurdas em outros sentidos e verdadeiras e falsas e absurdas em alguns sentidos.” –  

Minha Teia De Inscrições

Minha Teia De Inscrições Desde que eu era apenas um garoto minha mãe já acompanhava meus estudos impondo-me disciplina e cobrando-me ser ao menos semelhante à ela: uma verdadeira caxias. Eu nunca levei muito jeito para fazer o que não queria e confesso que nessa idade me era muito mais interessante sentir o mundo comportando-se diante de mim do que imergir-me em papéis e estudar o que a escola me propunha. É dessa época singular que provém os relatos e reflexões aqui contidos. As redações da escola eram algo que me exigiam um certo esforço. Eu não sabia lidar com aquele tanto de regras de pontuações, apesar de ter me submetido bem aos tratos pavlovianos da ortografia e desde aqueles tempos já não errava uma palavra sequer. Quando sobravam-me respostas e parágrafos para serem elaborados em casa o fardo acompanhava-me e eu sentia-me na obrigação de desdobrar-me no idioma para conseguir uma tarefa satisfatória. Até então tudo bem. O problema era realmente a redação. Minha mãe

Do Criador

e quando me vieram vender poesia na rua dispensei-as, mas não por descaso: o poeta é auto-suficiente em suas histórias.

Outras Passagens

mais retalhos de uma história nunca escrita . - Pois então, posso lhe pagar com uma oração? - Minha querida, eu não sei por onde você tem andado, mas nessa terra orações não enchem barriga. - Mas enchem a alma, e eu vejo que você está precisando. - Pois o propósito da oração não é o altruísmo? A dedicação ao mundo? Ore por mim sem precedentes ou meios termos! Do contrário, como poderei confiar em suas preces? - A troca é essencial e compõe a convivência humana, mesmo a relação consigo próprio é pautada na equivalência. Há quem a perverta e atribua-lhe personalidades humanizando um processo natural, mas estes pecam por não aproveitarem as oportunidades que lhe são concedidas - É engraçado falar de desperdício, pois apenas os dizeres vazios já ilustram o fato. Afinal, você veio até aqui para bater papo? Eu tenho compromissos latentes. - Mas senhor, eu não tenho mais a oferecer do que eu mesma. - Mas isso basta! Aliás, quero apenas parte do todo. Estou interessado em s

Salvaguarda

Quando condições são estabelecidas um desfavorecido o é por conta própria. O jogo está sujeito a mudanças de regras imediatas: joga quem quer. A PREMISSA COMO PAUTA: a delimitação das intenções confecciona um perímetro comportamental. Sendo assim: ~ Para cada pronúncia de meu nome em vão, Um espinho que atravesse o teu coração & Para cada pensamento que não condiz à minha essência A inflação de tua pestilência & Em cada ato do qual eu for alvo A certeza,  amarga , de que estarei salvo ~ CAOS & EFEITO: aqui, eu dito o cacife.

Perséfone

O céu me beija em gotas. E enquanto desmorona violento ao meu redor, comigo se faz suave. A chuva me envolve tão sutil que provoca ciúmes, me desvia de compromissos & me afasta de meu lar. Os deuses andam enamorados & não há abrigos para a obsessão divina. Não me oculto, portanto. A insensibilidade da ligeireza se desfaz à medida que freio-me & logo me quedo estático. Esculpido sob a tempestade sou obra do desejo & a garoa me alisa mansa. Encoberto por véus cinzas, sou mistério inefável. Monumento embebido em meio a um Éden.

Polar

Grafava imagens com gravidade e gravava as de seu agrado. Graduado pelo humor: agridoce .

À base de ração

O fetiche imposto ao seu animal de estimação o renderá, pelo menos, mais uma encarnação. Aliás, este próprio adjetivo padrão é equivocado, uma vez que ele é símbolo de status, e não apreço. Os grilhões estão na percepção, no ponto de vista. Eu não espero que você me entenda, por que se o fizer, o fará mal. Além do mais, você também deve reencarnar para, como diz o Eduardo Pinheiro, ver um pouco de televisão ou ter uma vasta coleção de selos...

Tênue

  Arrebento mais uma linha por descuido. Eis a fragilidade da teia que nos envolve e, no entanto, ela a tudo engloba.   Eu, que costuro palavras, num remendo tardio, emendo pensamentos e os aglomero em linhas extensas. Teço poesias remetidas a remetentes em busca de remissão. Paradoxalmente fractal.   O entroncamento de paralelos é a comunhão dos opostos. Trilha o caminho da probidade e eis a transmutação da probabilidade. Os véus estão ondulando por todo tempo nesta brisa incessante, mas os poucos que não a chamam calmaria só protestam a maresia pretenciosa de seus olfatos ímpios.   Redenção, pois, para os santos, apenas. É este seu atributo.    Enlevemo-nos a nós mesmos, pois é isto que nos compete. Completude.

Tempestuoso

  Toma tua trilha. Tomba tuas tralhas, triviais. Troca-te: transpassa teus tons! T raja teu trajeto & trata ternamente teu tratante. Traça tua teia tensa tão trabalhada, tricotada... TEMEROSO TEMPO TERRENO, TENHA-TE!

Agravo

Você, que é seu cargo e que se encarrega de carregar para todos os lados o fardo de sê-lo. Você, que é só profissão, limitado ao seu ganha pão e nada mais: negocia a consciência, a moral e a própria paz. Já tanto faz. Você, que se apresenta como trabalhador, antes mesmo de falar do amor ou do tempo. Que se envaidece e se esquece do momento, inicia diálogos sem cumprimentos. Você, sem nome, mas um belo emprego. E uma promessa vazia de sossego. Mas você nunca acreditou em utopias. Vive a vida em cores frias; não é pai, apesar das crias; não é amigo, apesar das companhias; não é palhaço, apesar das fantasias. As doses de ironia que o cotidiano nos reserva: resumia-se ao vício de seu ofício, e à concepção de uma vida severa.

Semântica Hermética

Palavras que saem de nossos lábios sempre retornam à nós. Agradeço pela forma com que estas se manifestam: é bom contar com o caos & com a memória daqueles que possuem sensibilidade o suficiente para imergir & fazer de meras palavras um sentido amplo. à uma certa Rai :) A melhor forma de recompensar o Universo e, consequentemente, a si mesmo é estando completamente à vontade & contente com o presente.

Inválidez

quando “reforma” refere-se à aposentadoria Manipulo tuas alamedas: antecipo outonos & deponho teus jardins babilônicos. Folhas esvaem-se & a vizinhança receptiva distanciou-se sutil. Os ventos frios cuidam do uivo que enchem-lhe os ouvidos, pois o bairro soa amordaçado. Teus verbetes já não lhe são familiares, tampouco o caminho usual.  Rondas num, já, labirinto. Sois temor, sem qualquer alívio em mapas, consultas vãs! Tens a ti na desesperança tardia, mas desperta, de não te conheceres e, portanto, perdurará insondável até que te permitas! Cercado em ti podes ver as sombras que se alongam num ocaso demorado, e saber-te em uma rua sem saída é incitar tua grandeza, porém tua salvaguarda covarde, que vem restaurar-lhe a ficção para que te apóies em quimeras fantásticas: -Isto é questão de experiência, pois compare nossas idades! São com estas pretenções levianas com que ludibrias tua própria consciência! Apega-te à tua abstração neurótica e busca sustentar uma i

A metáfora da Escultura

Todos somos blocos de gesso a serem moldados. Cada um possui um volume diferente, disforme e único, e espera-se que sejamos nós os artesãos, apesar de que muitas vezes nos eximamos desta responsabilidade.. . Mas se nos dispomos a lapidarmo-nos, depois de muito, chega-se à uma forma universal. Digamos, para fins didáticos, que uma mini-esfera nos aguarde por dentro de toda essa "carapaça cultural". Essa esfera é uniforme e contém apenas algumas regências que pautam as relações de si com o que se cerca e fora dela tudo mais é relevante e desnecessário. As "grades culturais", relativizadas, revelam a potencialidade pura e dão condições de espreitar um padrão pelo qual as coisas se desdobram. Ironicamente, a esfera pode ser comparada aos "dez mandamentos divinos". ~ Se relativizarmos a metáfora: não há molde de gesso, não há forma geométrica e não há grades. A lapidação e as regências são indiscutíveis

Lânguido

Aos incapazes Escassos, mesmo em sonhos. A ilusão do tempo lhes escorre pelas mãos, atadas por si mesmos, não numa penitência, mas na vã tentativa de re confortarem-se. Sua própria perspectiva os limita e o culto ao lúdico é nostalgia. O útero se decompôs e agora são fetos ao relento, putrefatos, em suas saudades eternas do seio que lhes permitia a saliência inoportuna; do tempo em que sentiam-se necessários, bem-vindos. Sobrevivem póstumos, em busca do sentido infindável de sua existência. E, por vezes, pensam terem-na encontrado: apegam-se a certezas e defendem-nas como se nada mais lhes restasse. Até que estas se provam bambas – como eles. Frouxos. ~ Quem vive na merda, quando tem chance de virar adubo, se prontifica .

Desassombra-te!

Desassombrar(-se): (verbo, transitivo) 1) Ato de livrar-se de assombrações, sejam elas arquétipos próprios, de terceiros ou livre-manifestos; 2) Sair da sombra; 3) Projetar-se, em um ambiente ou situação (tomar as rédeas, tornar-se protagonista) . 4) Tranquilizar-se; 5) Assumir-se, responsabilizar-se por algo; 6) Adquirir conhecimento, desalienar-se; 7) Eliminar obstáculos; 8) Adotar uma postura hermética, manter-se longe de ameaças, "fechar o corpo".

Ponto de Vista

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180° é só uma medida. A Alquimia não reconhece números.

BANANAS

adendo aos easy-sharings¹ O deslumbro barato não se justifica. Quem vive de mundo encantado é roteirista. O apreço é por demais precioso para ser gritado; e há quem sustente a postura de altruísta quando se faz de anfitrião do teatro do desconhecido! Há mais a ser passado ao outro do que a sua bibliografia favorita. --- ¹ " Easy-sharing ": adeptos do compartilhamento efusivo; aquele(a) que se sente no direito de gritar informações relevantes à ele para qualquer outro indivíduo presente; quem desconhece o oculto ; charlatão.

Para marcar

meu eu-lírico não o sou. mas, entre divergências, intercessões.

Prantos que enxem-lhe mais do que uma taça

aviso aos navegantes Homens que se lançam ao desconhecido em busca da bem-aventurança. Encerrados num universo azul, às vezes na distância de um monóculo, surgem-lhes propósitos que em terra firme nunca lhe ocorreram. Há a quem uma dose de insegurança caia como a água gelada  do despertar. O tesouro especulado é uma faca de dois gumes: se existe, traz fartura; mas também a ganância. Se o alarde é vão, a desilusão. Mas há aquele que, enfim, se enxergue absurdo, distante de si, bem mais do que do último porto que vira. Piratas urbanos que confundem-se e afundam-se em conceitos. Não reconhecem-se pelos trajes, mas ainda buscam tesouros escondidos, num mundo agora não mais tão azul. O desejo de plenitude, e posterior, transbordar, e encher oceanos, e não ser enxugado! Compor sete mares em uma vida. Calma lá. Calma, que é o contrário desta pressa, desespero, violência. Hoje em dia atropela-se as frases, os pedestres, a educação. Diálogos viram monólogos; palavras, onomatopeias.

Presopopéia

ao som de  Paatos foge me à compreensão. mas é tão presente e tão notório que urge em ruídos ásperos; ruge em texturas inquietas: gastura imensurável.

Sinestésico

despiu-se e adentrou-se ao cômodo incomodado com o odor do escuro esclarecido de que tudo é puro quando não se pode diferir com o ver o cheiro que invadia-lhe o olfato de fato transbordava pelo umbral a porta que rendia-se à sua gravidade escancarava a verdade de ser-lhe um igual viu-se então em sua órbita e ainda assim alinhado à tudo sentiu-se composto e integrante intrigado em coexistir como conteúdo e o que não lhe cheirava bem eram seus olhos donos do insulto a boca calou-se, palavra sequer! é o silêncio que define o oculto desnudo em reticências que envolviam-lhe suave fez-se deslumbro no odor, já doce, que invadia-lhe os poros e permitiu-se além-solo, como a porta que ficara para trás: só vale a lei se esta lhe garante a sua paz.

Intervenção

Só a arte pode salvar o homem, mas só o homem superior pode entender a arte. Logo, estamos fadados à uma seleção natural: a eliminação da preguiça de pensar. A peneira como ato de conceber(-se!) & de (re)inventar(-se). A progressão: da admiração à projeção. Alinhar-se à si!, como há de ser! O processo de tornar-se também emissor e não só espectador. Equilibrar a balança restituindo um fluxo irreprimível. Desestagnar-se!

Fome de Algo Mais

Se poesia enxesse barriga, enxia bem mais que isso! O peito cheio, de orgulho mesmo!, de ler em voz alta os versos escolhidos! Mas, pelo contrário, a mais nua vergonha! E não é vergonha estar nu! Vergonha é estar disperso: PERDEU A OPORTUNIDADE DE FICAR CALADO, RAPAZ! E agora perdeu a frase anterior! E só se faz mais BURRO, BURRO, BURRO! BURRO! E vai xingar o prefeito, cantar uns raps, fazer-nos rir! Eu não sei o que tá na moda por aí... Eu sei que o respeito tá em baixa!

Manutenção

Cortar as unhas: Auto-mutilação semanal.

Extraordinário

Dentro de toda ampulheta há um grão de areia negro. E se os grãos, todos, já são negros, há nesta outra ampulheta um branco, claro como a neve. Sobre este grão excepcional duas coisas têm de ser ditas. Começo pela confecção do objeto que intriga a tantos. Aquele pequeno grão do oposto não é colocado ali propositalmente, pois não há uma finalidade ou motivo místico para a inserção desta peça destoante e tanto trabalho gratuito é descompensado. O mistério, portanto, está na forma como este princípio de ironia se manifesta, pois mesmo que o artesão selecionasse cuidadosamente cada grão de areia, após o envasamento final fatalmente o grão se revelaria. Há quem explique o fato como um processo de seleção natural em que o grão mais apto destaque-se dos demais adquirindo uma tonalidade contrastante. No entanto há lacunas nesta teoria, pois a característica saliente não é especificada, dando possibilidade ao acaso como solução. Há outros que acreditem na materialização simples do grã

"Impasse" ou "72"

aos indisciplinados Conta a lenda que um jovem discípulo, perturbado com os acontecimentos do mundo que o cercava, foi ter com seu mestre a buscar soluções para erradicar o que tanto lhe afligia. Após interrogar o ancião este lhe aconselhou que se quisesse ajudar ao próximo que começasse próximo à si. Poderia buscar a água da fonte para repor as reservas da casa já que o outro discípulo, encarregado desta tarefa, estivera enfermo. O jovem se propôs a fazê-lo prontamente, afinal a água também servia à ele. Armado dos baldes saiu em busca do caminho que nunca havia trilhado, debaixo de um sol escaldante que castigava a região. Andou por horas até deparar-se com uma bifurcação sem qualquer placa que pudesse indicá-lo a direção para cumprir sua tarefa. Não havia cruzado com ninguém desde que partira em sua jornada e também não vira nenhuma moradia durante sua peregrinação, então se sentou diante da divergência e pôs-se a meditar. O tempo passou e o discípulo não viu solução senão

o Eu e o Outro

Talvez meu tempo seja mesmo outro; Talvez meu outro seja mesmo tempo.

Charme

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pois todo fim é um começo e toda despedida tem seu charme. Queria já ter partido há muito. Assim, espontâneo & definitivo, só para vê-la acenar seu lenço assoado & encharcado das lágrimas que vergam por mim. Que não retornarão aos seus olhos, assim como não retornarei aos seus braços. O sol não volta atrás por que sabe da deselegância do regresso. E faz de sua despedida um espetáculo à parte, aplaudido no fascínio daqueles que desconhecem os outros cantos do mundo. Aplaudo o sol de pé. Sem lugares estratégicos, porque não é aos meus olhos que ele toca. Mais coerente seria o coro se o elogio fosse feito à dedicação com que este se mantém sobre nós, incondicional. Mas vivemos de momentos, entre vírgulas, de finais felizes! Aplaudo o sol com vigor & alívio. Sou vivaz em minha indiferença, tomado pela ansiedade, cordial nas palmas explosivas que anunciam o fim de minha espera. Dói-me este receio com que se vai; esta despedida longa & dramática & indecisa

Con'templ'ação

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[slow riot for new zero canada ] O acesso restrito configura-se por uma questão de necessidade: há tanto para ser discutido à sós que o roubo da intimidade é um pecado. A sincronia se dá por meio de um código mas, mais do que apenas garantir passagem, este pressupõe um alinhamento conceitual: Portas abertas, ESCANCARADAS! A casa reluz & irradia caminhos. Sobre tudo pode ser dito tudo, sobretudo, que é UNO. Concepções conciliam-se no claro: o lar repousa, iluminado. Adiante-se! Uma moeda que lhe valeu mais do que sua inscrição! A discrição com que se porta é a discrição com a qual a porta: metida em segredos, no sigilo que ela encerra. E desdobra portas, por ser chave. Perante as trilhas familiares a tranquilidade impera. O horizonte ao alcance de tuas mãos: moedas! O universo não se curva ao ouro, mas ao toque; Perceber já é estar em contato. Guarda-corpos que nos mantém acá: em comunhão. A livre transposição de véis & o abandono da i

Assombrações Verbais

ao João ! e começo com Fernando Pessoa . indispensável. Adjetivos não existem, são nomes dados ao intocável! Presunçosos! O “belo” é parcial, corrupto! É um agrado expresso: individual & injusto, um mero bater de martelo... E descrições de si são assim: repletas de fantasmas! A quem se descreve para poder colocar-se em palavras, em características tão limitadas & subjetivas?! Seria ao Zé-Ninguém de Reich ? – Mas não seríamos tão descuidados assim... Seriamos nós mesmos nosso ponto de referência? – Mas, ah! Quanta pretensão... Afinal de contas, o Eu é mesmo um Outro. 

Aspas

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A liberdade está na fechadura do sanitário. " livre "

Solvente

Não importa quanto tempo eu passe contigo, nunca é suficiente. E a despedida, temporária, é sempre um parto que vem me rasgando cada vez mais. Eu sofro de uma perda de identidade, constante & progressiva. E estes lapsos compõem-me lacunas! Mais do que isso, compõem-me saudades. Em uma canção que não sei se posso dizer que é triste. E também não posso dizer que é ritmada. Musicada à capela, num respiro incerto de quem toma-se por um ato impetuoso; de quem decide-se, à beira do ouvido, arriscar um sussurro: GRITANTE! _______________________________________ Minha prosa é confissão. E por sê-la é poesia. E é mais do que frases ensaiadas ou espontâneas, pois tem um quê de desespero; É mais do que um pedido de socorro, pois tem uma dose de desesperança; É mais do que uma declaração. Eu já me encontro completamente explícito, de expressões sublinhadas & pensamentos escancarados: sou todo legível. Distante, por ter me deparado com a saudade. Absorto, por sabê-la insolúvel. O

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Houve um silêncio. Ouve o silêncio: "!!!!!!!!!!!!!!"

Afã

Hoje meu lar é um ponto de ônibus, um banco no aeroporto. Faço a minha casa em qualquer esquina, qualquer espera. Vida de encruzilhadas. E compartilho o destino com desconhecidos em minutos que se estendem imponentes. O relógio assenta-se por graça, pomposo & gozado! E, como a lebre, perde a disputa. Hoje o dia é da tartaruga; do viajante. Avenidas são linhas de nós cegos em mapas desajustados. As ruas são vias deserdadas da cidade, perdidas por aí apenas com um nome nas costas. A palavra é gratuita, mas é tão pesada que um silêncio intocado se estende nas matracas preguiçosas & sedentárias. Sons disformes embalam uma sinfonia inorgânica & perturbadora: trilha sonora do cotidiano, despercebida como um filme automático. É nesse contexto em que se configuram guias turísticos todo & qualquer transeunte. Um contrato cercado de termos & entrelinhas cujas assinaturas são dadas num desvairo sutil. Surto social hereditário, mas artificial, numa estrutura que não se sustent

Lapso

O Sereno tocou-me & fez-se inquisitório. Em uma redenção atemporal dispus-me à ele, com pensamentos colocados em cheque: imóveis & adiados. Suspensos. Palavras caladas num susto que se prolonga doloroso. Assim supera-se uma noção vaga & virtual, nunca experimentada de fato, do Silêncio. O Vazio é Pleno. O êxtase da mente inabalável  é contagiante & o corpo reencontra-se capaz. A conciliação com o TODO, casamento de semelhantes, este incesto transcedental que refuta qualquer crítica feita à questão do instinto. E é inerente ao Iluminado a “indescritibilidade”! Restam, então, esforços vãos de um autor frustrado: Para tanto, minhas palavras necessitariam ser lacunas.

Ausência

um bilhetinho à moda antiga Senti saudades tuas. Ou será que foram saudades de mim mesmo? De um eu antigo? Acho que o reencontrei por aí nesses dias que passaram voando, numa topada brusca nas esquinas da vida... Apressado, só teve meias palavras em um sussurro esmeirado & rateado e, em troca, levou-me o fôlego & o rumo. Recompôs-se em sua rota e deixou-me atordoado no ápice de minha rotina que já ha muito havia se esvaído em vista do devaneio que se apresentou fatal. O tempo havia migrado e eu não me endireitara no ritmo. E se me faltava fôlego & direção, sobravam-me palavras. Palavras que eu uso no preenchimento de lacunas, na transposição de abismos, à contrapeso da ausência. Enfim: Saudades, tuas.

Desembrulho

À uma garota que eu ainda não conheci; & ao Mestre, André Martins. “Todos os passados ideais, todos os futuros que ainda não passaram, simplesmente obstruem nossa consciência da vívida presença total.” - Aonde você esteve este tempo todo? -Exatamente aonde eu devia estar. E agora me tens em sua frente, exatamente como tem de ser. -Encarar-te é encarar uma ampulheta incessante. E eu já não sei julgar o tempo: se cruel pela espera ou generoso pelo presente... - Pois disponha-te a ele! Há grãos exaustos, prestes a despencarem, em sua depressão conjunta; & há uma pilha crescente de amontoados rendidos, que se afundam e são encobertados por um sono inextinguível. - E lanço-me aos braços de Morfeu? Seria meu deslumbro mero delírio e, estando no Sonhar, o nexo é desinteressante? - Enlouqueças de tuas mil-e-uma maneiras, mas permaneças acordado. Não vais perder a hora, pois esta sim tem encontro marcado com teu deus do sono! Teu deslumbro é o meu & teu delírio é deli

Íntegro

Um grupo não é composto de uma dúzia de meios; mas sim meia dúzia de inteiros.

"Bom dia"

Uma proposta para tornar-se fluido. Deixar portas abertas & abrir-se em conjunto. Assumir-se. Independência ou Auto-Gestão? As palavras se diferem e exigem cautela! Preocupações são duras demais para se colecioná-las! A maciez do papel lida bem com seu peso e o tempo se encarrega do ponto de vista desmantelador. O excesso é perda, assim como a escassez. O que sobra, sobra por não ter sido bem usado. Assim, resulta-se a máxima: “Nada se perde, Nada se cria, Tudo se transforma.” O rio corrente compõe-se do livre; o atraso provém do desnecessário. O acúmulo se acumula: “Quer pouco, terás tudo; Quer nada, serás livre.” Límpida , a água resplandece e revela a bela faceta da vida pura em reflexos de prazeres nos instantes. Que Narciso se confunde pois busca com as mãos: beleza se contempla! Os olhos aprovam o mundo que a mente trás para si. Bom dia. ________________________________________ ¹Lei da Conservaç

BOOMERANG

e a convicção de que a conexão não é terrena & independe de localização para o situar-se mútuo. que todo homem que possui uma virtude possui, em mesmo grau, um vício que provém do descuido! o tempo dedicado a afinar-se em uma nota é o mesmo do reparo: a sinfonia é composta de tons errantes e nenhum deles pode ser pleno em sua individualidade, portanto o REFINAR-SE! e no ritmo individual que possuímos resta-nos o conforto da sintonia. se vibramos com isso? claro! pois a sinceridade para conosco, sempre em primeiro plano: responsabilidade é dada para a capacidade. e se hesitamos diante os deleites de um universo irônico? bem, a dúvida fora colocada e explanada em seu enunciado! nunca tivemos exatamente tempo para acanhar-nos com estes assuntos... na verdade, acredito que seja mesmo falta de interesse... você e eu sabemos o quão difícil é captar-nos a atenção com estes assuntos tão... monó... ah, você me entendeu!

Meias Verdades sobre Meias Amantes

Eu nunca as quis por completo, é verdade. Aficionado com as obras do acaso, eu nunca quis colocar limites no politeísmo. Restrição de crenças &outros tipos de jejum sempre ocasionaram-me um enjoo egoísta, típico da solidão em que costumo me conservar. Os costumes são todos falidos, pois são rotineiros. As latas em conserva estão todas vencidas, a começar pelo prazo de validade que já fora previsto e está desnudo na própria embalagem. O acaso, eu ja mencionei anteriormente, é obra da ingenuidade. Essas coincidências só impressionam os distraídos, traídos por seu aluar. Esses idos & vãos, surpresas de um destino doce ou cruel, são SUAS atribuições, demasiadamente românticas. Que acusem-me do Amor-Livre! Quem quer ferir, já foi ferido. Pois este amor já está bem morto & é a liberdade que o comprova! Não haveriam de ser antônimos, opostos, a se encarar... Mas que posso fazer se o meu amar exige tanta maturidade? Que essas declarações de guerra são inocentes & infantis;

Citação

✉ E poder dizer todo dia: "you meet me at a very strange time in my life"

Rastros

Disse-me impulsiva. Quisera eu sê-lo. E da forma como veio, sutil! Como uma frase que termina em reticências; um suspiro prolongado, de quem anseia & se permite ir além. Há quanto fugiste de mim o deslumbro que faz-me eufórico neste instante? Espontaneidade que se fora e retorna na composição! Indícios do contágio! Se refaço meus últimos caminhos posso procurar os vestígios do sorriso que me deras, sem nem se dar conta!